Você já pensou em fazer uma viagem onde o roteiro foi escrito pelos seus bisavós?
Onde a lembrança de família vira ponto turístico, a certidão de nascimento vira mapa, e o maior souvenir é descobrir de onde você realmente veio?
Bem-vindo ao turismo ancestral e de raízes, um tipo de viagem que tem tudo pra ser o novo boom emocional e existencial do século XXI. Mais do que ver paisagens bonitas, aqui você vai escavar a própria história — e, quem sabe, entender por que seu avô sempre fazia polenta às segundas.
Mas o que é turismo ancestral, afinal?
Também chamado de genealogy travel (porque em inglês tudo parece mais cool), esse tipo de turismo é voltado pra quem quer reconectar-se com suas origens, explorar o país ou região dos antepassados e, de quebra, fazer uma viagem que tem mais a ver com identidade do que com atrações turísticas.
Você não vai só ver castelos. Vai visitar a vila onde sua tataravó nasceu, o cemitério onde está enterrado aquele bisavô que fugiu da guerra, ou a igreja onde seus trisavós se casaram com direito a bigode, véu e charrete.
De onde veio esse interesse repentino pelas raízes?
Culpa (ou mérito) de:
- Testes de DNA que revelam que você tem 12% de viking e 3% de berbere
- Plataformas de genealogia como MyHeritage, Ancestry e FamilySearch, que hoje cruzam dados de cartórios, censos e batistérios do século 18
- E da vontade crescente de viajar com propósito, não só com check-in no Instagram
Ah, e tem mais: em tempos de globalização frenética, muita gente sente falta de pertencimento. E descobrir que você tem sangue italiano, africano, árabe ou indígena pode ser mais revelador que qualquer passeio guiado.
Quais são os destinos mais procurados no turismo ancestral?
Vai depender do seu sobrenome — e das histórias que rolam nas reuniões de família.
1. Itália: a terra das nonnas, massas e batistérios
Muitos brasileiros com sobrenomes como Rossi, De Luca ou Bianchi têm raízes no Vêneto, Calábria ou Campânia.
Várias cidades pequenas têm arquivos paroquiais milenares e prefeituras que já estão acostumadas com turistas atrás de “seus mortos”.
Como chegar:
Voos do Brasil para Roma ou Milão saem a partir de R$ 3.000 ida e volta.
Depois, trens regionais por R$ 40 a R$ 100 levam você até os vilarejos mais escondidos.
Dica bônus:
Muitos lugares têm agências locais especializadas em turismo genealógico, que ajudam na pesquisa e ainda arrumam um tradutor simpático que conhece todo mundo na vila.
2. Portugal: o lar de muitos sobrenomes e um café forte como a saudade
Portugueses vieram ao Brasil em massa no século XIX e XX, especialmente das regiões do Minho, Trás-os-Montes e Alentejo.
É comum encontrar igrejas com livros de batismo de 1600, padres genealogistas e até museus de emigração que ajudam na busca.
Como chegar:
Voos diretos para Lisboa ou Porto a partir de R$ 2.800, com ótimas conexões de ônibus ou trem para o interior.
Extras emocionais:
Muitos viajantes acabam descobrindo parentes vivos — sim, aquele “primo de 7º grau” que ainda vive no mesmo bairro da bisa.
3. África Ocidental: raízes profundas e intensas
Para brasileiros descendentes de africanos escravizados, há uma busca crescente por Benim, Nigéria, Gana e Angola, na tentativa de se reconectar com uma história apagada.
É turismo, mas também é reconstrução histórica, ancestralidade e cura.
Voos e logísticas:
Geralmente partindo com conexões via Europa ou Marrocos, custando entre R$ 4.000 e R$ 6.000 ida e volta.
Dica de ouro:
Agências especializadas em afroturismo como a Afrotours ajudam a montar roteiros respeitosos e profundos, com foco cultural e espiritual.
4. Leste Europeu: Ucrânia, Polônia e Lituânia no mapa dos descendentes do leste
Muita gente não sabe que os “alemães do Sul do Brasil”, por exemplo, vieram de regiões hoje pertencentes à Polônia ou Ucrânia.
Lá, ainda existem vilas com os mesmos nomes das colônias no Brasil, e arquivos preservados em igrejas ortodoxas.
Como chegar:
Voos com múltiplas conexões a partir de R$ 4.500, e o resto da aventura pode ser feito de trem, carro alugado ou até carroça, se o espírito da ancestralidade mandar.
Mas como eu começo a montar minha viagem ancestral?
- Comece em casa: pergunte tudo pra sua avó. Sério. Ela sabe mais que o Google.
- Use sites de genealogia:
- MyHeritage
- Ancestry.com
- FamilySearch
- Reúna documentos: certidões, passaportes antigos, fotos, cartas. Tudo ajuda.
- Escolha seu destino com base nas pistas.
Se for o caso, contrate consultores genealógicos ou agências especializadas — eles fazem o trabalho braçal enquanto você sonha com o roteiro.
O custo emocional? Incalculável.
O valor financeiro? Planejável.
- Passagens: entre R$ 3.000 e R$ 6.000, dependendo do destino
- Hospedagem: vá de pousadinhas locais a Airbnb, entre R$ 150 e R$ 500 por diária
- Guias e tradutores: entre R$ 300 e R$ 800 por dia, mas vale cada centavo pra entender o que está rolando
- Consultoria genealógica: pacotes entre R$ 1.000 e R$ 5.000 com pesquisa e roteiro
Conclusão: turismo de raiz é turismo com alma
No fim das contas, essa não é a viagem dos seus sonhos. É a viagem dos sonhos de quem veio antes de você.
É reencontrar um lugar que você nunca conheceu, mas que, de alguma forma, já te pertence.
É a rota mais humana que um passaporte pode carimbar.