Já faziam 4 anos que eu havia tirado meu passaporte na esperança de sair por aí em busca de histórias para contar.
Nos meus planos iniciais, eu esperava ter companhia pra isso… mas o tempo passou e percebi que não dava pra deixar meus sonhos e anseios à mercê da disponibilidade de terceiros.

Agosto de 2018: hora do “agora ou nunca”
Tinha acabado de passar meu aniversário e decidi ali mesmo: vou viajar! Mas teria que ser logo. Cotei vários destinos e, por fim, decidi começar por uma maravilha do mundo.
Apesar de não precisar de passaporte pra visitar o Peru, dali a 8 meses o meu ia expirar. Foi a chance perfeita de desvirginá-lo. A passagem? R$ 760,00 na época. No dia 20 de agosto, lá estava eu, sozinho no aeroporto, com a mochila nas costas, sem nunca ter viajado de avião — nem sozinho.

Primeira parada: Bogotá, Colômbia
A primeira perna do voo era pra Bogotá, onde cheguei no fim da tarde, sem nenhum perrengue. Troquei alguns tostões da moeda local e fui de táxi até o hostel que eu havia “bookado” (R$ 19 por noite). Combinei com o motorista pra me buscar na madrugada seguinte.
Acordei cedo, fui até a recepção… e nada de gente. Aparentemente, a porta estava trancada, e o táxi logo chegaria. No desespero, fiz um barulhão com uns potes e bati na porta — até que o cara apareceu e disse que era só empurrar a porta que ela abria.

Cusco: altitude, cultura e caos
De Bogotá até Cusco fui num aviãozinho que mais parecia um ônibus rodoviário com asas. Chegando lá por volta das 9h, tirei o primeiro dia pra me aclimatar. Dei um rolê pelo centrinho histórico, pesquisei preços dos passeios, troquei uns soles, fiz um plano da Claro pro celular…
Na empolgação, parecia bobagem ter deixado um dia só pra me aclimatar. À noite, descobri que não era: desconforto total.

Começando o turismo pesado
Comprei o Boleto Turístico que dava entrada em 16 pontos por 130 soles (mas paguei meia entrada, universitário que sou!). No dia seguinte, fechei um tour para visitar alguns desses lugares e, pro dia subsequente, o transporte de ida e volta pra Hidrelétrica, acesso para Águas Calientes — a base do Machu Picchu.
Às 4h da madrugada, lá estava eu no hall do hostel esperando a van.
Momento gafe: campainha toca, abro a porta todo simpático pra um casal… e a tia do hostel aparece furiosa, me xinga horrores — acho — num espanhol misturado com algo que parecia quechua. E com razão: não se abre a porta pra estranhos! (faz todo sentido, kk).
O tour foi sensacional: Vale Sagrado (Ollantaytambo, Salinas de Moray, Pisaq e outros). Por 70 soles, tinha transporte, guia, café e almoço típico. Me estragaram de mimo. 😂
Rumo ao Machu Picchu 🚂🏔️
Na madrugada seguinte, mais uma vez de pé. Mas dessa vez, eu tava mal. Pressão baixa, enjoo — efeito da altitude. A van seguia desfiladeiros em curvas infinitas como num rallycross e, quando achei que ia perder a dignidade, paramos. Corri, comprei chá de coca. Funcionou. Antídoto milagroso.
Cheguei na Hidrelétrica e segui o fluxo de “pessoinhas” (sem saber exatamente pra onde iam, haha). O caminho era puxado: cada passo parecia carregar um lutador de sumô. Fiz amizades que ajudaram no apoio moral.
Águas Calientes parecia uma vila de filme do Studio Ghibli. O hostel era à beira de um riacho com várias quedas d’água, e do outro lado, a estação de trem.

Machu Picchu: o auge ✨
Às 3h da manhã, fui pra fila do ônibus que leva ao topo (US$ 5). Muitos subiam a pé, mas optei pela sabedoria: fui motorizado. Entrei no parque às 6h e saí quase às 13h. Pisei em cada canto possível. O circuito é definido: sem volta, só ida. Mas há espaços abertos pra explorar.
Comprei o ingresso ainda no Brasil, por 158 soles, pelo site do governo peruano.
Fui um dos primeiros a entrar. Quando cheguei ao ápice de Machu Picchu, não havia uma alma viva ali. Ruínas, prados verdes, lhamas e o sol se espreguiçando no horizonte… Foi indescritível.
Na saída, entrei numa fila achando que era pra sair — mas era pra carimbar o passaporte. O meu já tava pra vencer mesmo, então carimbei. E fui correndo pegar a mochila no hostel.
Percorri cerca de 20 km em 1h30, em altitude, pra voltar pra Hidrelétrica e encontrar o motorista da van. Cheguei antes e… esperei uma hora até a van aparecer.
Puno e o Lago Titicaca 🛶
Às 20h cheguei em Cusco e decidi ir pra Puno conhecer a cultura do povo do lago Titicaca. Peguei um táxi (5 soles), comprei passagem na hora (25 soles), e embarquei.
A viagem? Desertos, trechos nevados, vilarejos, músicas aleatórias e programas de humor tocando nos celulares dos passageiros. Minhas pernas? Dormentes.
Acordei no susto numa parada, desci junto com outros, mas percebi que não era Puno. O motorista quase me deixou lá. Voltei pálido pro assento — agora mais espaçoso.
Cheguei em Puno às 7h. Logo fui abordado por guias oferecendo o passeio. Barganhei e fechei por 40 soles. Com lenço umedecido, fiz um banho de gato no banheiro da rodoviária e fui tomar café — cheirando a bumbum de bebê.
O passeio foi sensacional. Visitamos as ilhas de Uros (de totora) e depois Taquile, com cultura vibrante. Almoço incluso (mas só descobri que não estava incluso no meu quando já era tarde demais, hahaha).

O retorno épico e congelante ❄️
Na volta, comprei a passagem direto pra Cusco. Tentei explorar Puno, mas achei meio desanimador.
Comi uns salgados, vi Chaves na TV da rodoviária e esperei o embarque.
Escolhi um assento na frente do ônibus de dois andares. Péssima ideia: um furo no para-brisa deixava entrar um vento glacial direto em mim. Do lado, uma chola fedida (mas simpática). O frio era tanto que quase pedi um abracinho.
Despedida de Cusco e Montanha das 7 Cores 🌈
Voltei pro mesmo hostel (R$ 20), tomei um banho decente, dei umas voltas pelo centro histórico e dormi.
No dia seguinte, Montanha das 7 Cores (60 soles). Incrível. Só o caminho já valia o valor.
Chegamos a 5.200m de altitude. Respirar era uma luta. A cada 2 passos, parecia que ia apagar. O guia nos oferecia algo com anis pra ajudar. E ajudava!
No topo? Parecia o fundo de tela do Windows. Visual surreal.
Últimos momentos em Lima 🌊
No último dia, voaria com escala em Lima. Tentei ir à praia, mas não sabia o nome de nenhuma. Peguei um busão que me ignorou, tentei umas vans, mas estavam lotadas. Acabei voltando pro aeroporto.
Lá, vi um cartaz do ônibus turístico Express Lima. Por 48 soles, pude circular à vontade. Desci em Miraflores, explorei a costa, entrei na água (em praia de seixos) e fiquei ouvindo o mar.
Trouxe uma pedrinha no bolso (sei que é errado, mas tá aqui). E folhas de coca também — presente do hostel, que acabou esquecidas na mochila. Que doidera!

Final épico
Voltei pro aeroporto com internet acabando, cartões que não funcionavam, e no bolso só: uma nota de 1 dólar (que ninguém aceitou), uns trocos colombianos, 5 reais pro trem em SP, uma tortilha e uns chaveiros de lhama.
E tudo se encaixou perfeitamente.
Foi a viagem mais bem orquestrada que fiz na vida.